Comparativo: Notion vs. Bases de conhecimento tradicionais
Como escolher a melhor solução de perguntas frequentes e manual para um pequeno projeto?
A proposta do Notion
Já tratei aqui de como organizar uma base de conhecimento pessoal a partir de notas de texto. E, como o próprio nome diz, não se trata de uma base voltada ao compartilhamento dessas informações. Afinal, se você quiser compartilhar algo, precisará que essa informação esteja hospedada em algum serviço da internet.
Divulguei também recentemente que o Notion passou a ter um plano que permite a você compartilhar justamente esse tipo de informação, oferecendo portanto mais do que uma base de conhecimento pessoal. Isso significa que você pode sim usar o plano gratuito do Notion para hospedar uma base de conhecimento (com perguntas frequentes, tutoriais, manuais, etc), desde que estejamos falando de um pequeno projeto.
Afinal, como o Notion se compara com outras ferramentas de base de conhecimento?
Enquanto o Notion é uma ferramenta para organização de conteúdo (genericamente falando), as alternativas criadas para dar suporte a projetos (independentemente do seu porte) são marcadas pelo fluxo de trabalho que pretendem atender.
Softwares de suporte
Uma boa categoria de comparação para o nosso propósito é composta das ferramentas voltadas a atendimento do público, categoria também conhecida por help desk. O Zendesk é um exemplo, pois, ainda que seja centrado no recebimento de tíquetes, oferece uma base de conhecimento a um preço relativamente acessível (USD 5/mês).
Na verdade, você tem que pagar pela ferramenta de gestão de tíquetes de suporte e termina recebendo acesso à base de conhecimento, chamada Guide. Se estiver interessado nessa conjugação, pode ser uma alternativa. Mas, para mim, infelizmente o preço ainda é um problema.
O Zendesk nos leva a duas comparações assemelhadas, uma mais cara e uma mais barata. A mais cara é o Intercom (USD 99/mês, ou seja, proibitivo) e a mais barata é o Freshdesk, que tem um plano gratuito muito bom. A única desvantagem do Freshdesk é que só é possível customizar a aparência do seu portal de suporte nos planos mais caros (USD 49/mês).
Em resumo, bons softwares de suporte também oferecem, entre inúmeras opções, uma base de conhecimento. Você pode tirar vantagem disso, na medida em que essas ferramentas podem ter estratégias de cobrança que permitam o uso de uma base de conhecimento de forma gratuita ou a um preço acessível.
Essa oportunidade se deve a que portais de suporte, cada vez mais, estão oferecendo serviços complexos, o que inclui: automação de atendimento por meio de bots, integração da base de conhecimento com chat, suporte de diversos canais (incluindo Whatsapp, telefone e redes sociais), etc. Como as empresas tendem a cobrar por esses serviços sofisticados, a base de conhecimento em si pode terminar sendo oferecida de graça.
Softwares de documentação
Outra categoria de ferramentas que oferece bases de conhecimento são os softwares de documentação. A perspectiva é um pouco diferente da oferecida pelas soluções de suporte, pois dificilmente incluirão as funcionalidades de automação anteriormente listadas. Isso não quer dizer que sejam baratas, pois são ferramentas complexas ao seu modo.
O Gitbook tem um plano gratuito bastante interessante. O produto é espetacular, mas ainda não tem tradução para português. Na faixa de preço intermediária, existe o Confluence (USD 10/mês). Entre as opções mais caras e inviáveis para meu orçamento, o ReadMe tem planos iniciando em USD 99/mês.
Na verdade, como o mundo da documentação pretende atender desenvolvedores, é possível encontrar uma série de ferramentas gratuitas ou muito baratas. Mas, como o público é de desenvolvedores, possivelmente você precisará ser um desenvolvedor para instalar e gerir programas como o Sphinx, MkDocs, Docusaurus ou Read the Docs.
Preparando a conclusão...
O formato de base de conhecimento tem uma estrutura muito útil. Por ser independente de uma linha do tempo, trata-se de uma opção de organização bastante complementar a um blog, por exemplo. Mas também pode funcionar de forma autônoma. Eu mesmo, se soubesse disso no passado, teria utilizado a abordagem de base de conhecimento para resolver algumas demandas que terminaram não sendo bem atendidas por um blog.
Pode ser então que você, assim como eu, precise muito mais de uma base de conhecimento do que de um blog para resolver suas demandas atuais. A título de exemplo, mais recentemente, blogs corporativos tornaram-se repositórios de casos de uso, enquanto bases de conhecimento são muito mais versáteis, podendo comportar: tutoriais, perguntas frequentes, documentação, etc.
A pergunta a que sempre retornamos é: qual é o problema que você busca resolver? Um blog é a ferramenta ideal para posts que contem uma pequena história ou apresentem uma opinião. Uma base de conhecimento, por seu turno, é a ferramenta ideal para posts que veiculem instruções de qualquer natureza. Então, basicamente, você precisa saber se quer contar uma história ou se quer divulgar instruções.
E se você quer divulgar instruções, qual a melhor forma de fazer isso?
... fechando a conclusão
Em termos de opções entre as ferramentas, as bases de conhecimento oferecidas por soluções de suporte são mais acessíveis. Já as bases de conhecimento oferecidas por soluções de documentação são mais caras.
O motivo parece ser que a estratégia das soluções de suporte é tentar vender serviços agregados (não necessariamente a base de conhecimento, mas, por exemplo, sua integração com um chat); enquanto as soluções de documentação servem somente para essa finalidade. A consequência é que elas precisam cobrar pela única solução que vendem, ainda que não ofereçam necessariamente uma experiência muito superior.
O Notion surge como uma nova alternativa, pois não é uma solução de suporte ou uma base de conhecimento propriamente dita. Na verdade, o Notion é uma ferramenta de produtividade (gratuita para uso pessoal) que permite compartilhar bases de conhecimento, sendo a opção ideal para pequenos projetos que não tenham orçamento.
Se você tiver um orçamento generoso, é pequena a chance de ter chegado ao fim desse post. Além disso, tenho a impressão que as soluções mais específicas que listei aqui (como o Gitbook) não tiveram seus aplicativos traduzidos para o português. Ou seja, nesse caso, o dinheiro não resolve completamente, pois o campo do "Documentation as a Service" parece ser oferecido apenas por empresas estrangeiras com pouco interesse no Brasil.
Aplicativo de notas vs. Base de conhecimento: qual é o melhor?
Comparativo entre aplicativos promissores e alternativas tradicionais para a gestão do seu conhecimento.
Documentos vs. bases de dados
Já tratei em posts anteriores sobre como uso notas e outlines para facilitar meu processo de escrita. Tratei também dos editores de texto que uso em diferentes circunstâncias, sempre comparando opções disponíveis para Mac:
E hoje quero cuidar de um assunto diferente, relacionado a como guardar e recuperar a informação que você gera.
Muitas pessoas são totalmente passivas em relação à formação da sua base de conhecimento, deixando que as informações se acumulem no seu Whatsapp, Gmail, etc. Com isso, não chegam nem a saber onde procurar quando precisam de uma informação. Nada mais previsível, pois chat e email não são bases de conhecimento.
A rigor, aplicativos de base de conhecimento, como o DEVONthink, Yojimbo e EagleFiler, coletam, organizam e permitem a recuperação dos documentos do seu computador. Esse tipo de aplicativo é bastante caro e não se encaixa no meu fluxo de trabalho. A principal razão é que venho abandonando a organização de documentos e pastas para me concentrar bases de dados que, eventualmente, apontem para documentos.
O problema dos documentos
Vamos começar de um problema que pode ser bastante crítico: a busca em diversos pdfs. Não acho que seja necessário aderir a uma base de conhecimento tão cara como o DEVONthink somente para desempenhar essa função. Se esse realmente for um problema central para você, recomendo usar o PDF Search (pois é menos caro, USD 40). E, ao que me recordo, o Mendeley seria uma opção gratuita para isso.
Mas o que realmente me pergunto é se isso seria necessário para a maioria das pessoas. Suponho que a busca do próprio Mac (Spotlight) seja suficiente para quase todo mudo, pois a busca em pdfs é nativa. Então esse é um ponto que me parece superado.
Se você - como eu - escreve em markdown terá bases de conhecimentos nativas dos editores de texto. Ainda que assim não fosse, markdown é texto puro facilmente recuperável de toda forma. Aliás, essa é uma das razões para não escrever em Word, fazendo escolhas por padrões abertos. Assim, até aqui, cobrimos os documentos que você recebeu, escreveu ou encontrou na internet.
O problema das notas
Agora chegamos ao ponto que realmente me interessa, que são as notas. Existem diversos aplicativos de notas que funcionam como verdadeiras bases de conhecimento textuais. Um bom exemplo é o Bear, cuja organização é feita por meio de tags e de uma ferramenta de busca.
E passou a existir também uma nova geração de aplicativos de notas, dentre os quais o Roam Research parece ser o mais badalado. Trata-se de uma proposta bastante sofisticada, centrada na criação de links entre notas:
Infelizmente, o Roam Resarch não aceitou meu convite para ser usuário beta. Mas o aplicativo tem uma demo aberta que permite concluir do que se trata. O conceito do aplicativo é ser um outline com "backlinks". Ou seja, cria links entre diversos pontos da base de conhecimento, permitindo ir e vir entre eles. Essa proposta contrasta com Obsidian, que é um aplicativo de notas com "backlinks".
Além dessa diferença, o Obsidian trabalha com uma pasta local do seu computador (não em um servidor remoto), na qual você deve manter arquivos em markdown. Com essa escolha, você é dono dos seus dados.
Realmente é uma proposta corajosa do ponto de vista do negócio, uma vez que não será preciso pagar nenhuma assinatura para usar o aplicativo. Ao que tudo indica, serão pagos somente serviços opcionais de criptografia, controle de versão, hospedagem, publicação e edição colaborativa.
Com tudo isso, o Obsidian me pareceu supeior ao Roam Research em todos os pontos, inclusive em termos de interface. Segue um exemplo de como você pode dividir sua tela abrindo o mesmo documento em múltiplas janelas e em diferentes pontos. Realmente, me parece um aplicativo muito promissor.
Conclusão
As bases de conhecimento tradicionais são organizadas para gerenciar documentos. Embora reconheça o valor dessa abordagem, tenho melhores resultados organizando notas em um nível mais granular. Por isso recomendo utilizar um aplicativo de notas para montar sua base de conhecimento e, atualmente, o Obsidian me parece a melhor alternativa.
Entendo, contudo, que minha abordagem possa ter sido muito radical, pois exige trabalhar com arquivos em markdown e sem um serviço de sincronia ou hospedagem. Se esse é o seu caso, talvez queira optar por um aplicativo de uso mais cômodo, com organização centrada nas tags (caso do Bear) ou com interface mais rica (caso do Notion).
Além dessas opções com bons planos gratuitos, existem inúmeros aplicativos: Archbee, Confluence, Gitbook e Nuclino, entre outros. Com esses termos na mão, você poderá fazer sua própria pesquisa no Google. Mas acho que a tendência é que essas ferramentas atendam muito mais às demandas de wikis corporativos do que de uma base de conhecimento pessoal.
E, quanto o assunto é base de conhecimento pessoal, é muito mais importante ter velocidade e profundidade nos relacionamentos do que uma interface rica. Nesse caso, realmente, beleza não põe mesa.
PS: Se você está tão animado quanto eu, veja o vídeo de Matt Laker sobre o assunto e ele confirmará tudo isso que estou dizendo aqui:
Notas vs. Outline: que tipo de pessoa é você no mundo da produtividade?
Diversas formas de organizar as atividades de apoio da sua leitura e escrita.
Notas vs. Outline
Uma nota é um fragmentos de texto sem estrutura hierárquica. Já um outline é uma sequência de notas com estrutura hierárquica.
Geralmente, um aplicativo de notas depende de um bom sistema de busca, já que a organização do conteúdo não depende de estruturas aninhadas. Trata-se de uma abordagem universal à organização e que dispensa explicações, pois todo celular vem com um aplicativo de notas suficientemente bom. Todo mundo já viu (e possivelmente já usou) algum aplicativo de notas.
Se você precisa ser apresentado a um outline, ele tem se parece com um índice. Sua principal característica são os nós que definem a hierarquia do seu conteúdo (vide Outlinely):
E, para efeito de comparação, um aplicativo de notas tem a seguinte aparência, exibindo uma lista de textos não hierárquicos (vide Bear):
Autor ou leitor?
Para mim, notas muitas vezes fazem parte de um processo de autoria. Ou seja, tendem estar mais para o lado ativo do processo de escrita. Outline, de outro lado, é uma ferramenta de consumo, de resumo, não se confundindo com uma ferramenta de autoria. Assim, tende a estar do lado passivo, sendo uma ferramenta útil para o leitor. Mas, como disse, essa é apenas minha visão.
Cada usuário deve utilizar essas ferramentas como faça mais sentido para o seu fluxo de trabalho. No meu caso, por exemplo, se eu for expor um texto de alguém, possivelmente farei um outline como preparação da apresentação. De outro lado, se eu for escrever um texto, possivelmente tomarei notas de outros texto, ao tempo em que escrevo o meu próprio texto.
Nessa linha, é bastante incomum encontrar uma ferramenta de outline voltada ao público que escreve textos longos. Por exemplo, o Workflowy, uma opção bastante aclamada para elaboração de outlines, apresenta dois casos de uso apenas: listas e notas. O Dynalist, outra opção consagrada, se propõe a ser um organizador no qual você pode aninhar informação e conectar os pontos.
Da mesma forma, as opções de ferramenta para outline tendem a se colocar como solução para listas, planejamento, projetos, etc. Confirmam esse perfil as propostas do Checkvist e o Moo.do. Eles cobrem, quase que invariavelmente, as necessidades para elaboração de textos curtos.
Mas, voltanto às notas, a proposta de escrita de textos longos a partir delas está presente em ótimos aplicativos. O Scrivener é o que mais assume essa missão, pois realiza a fusão das suas notas em um texto maior. Seu layout espelha justamente esse fluxo de trabalho, partindo dos títulos, passando pelas notas e chegando finalmente ao texto longo.
Texto ou tudo?
Como foi possível notar, esse é meu uso de notas e outlines. Aliás, trata-se de uso muito particular e já cuidei do assunto em um post no passado:
Estou ciente que, para as pessoas que não têm a escrita como atividade principal de suas vidas, as grandes referências para notas são o Evernote e o OneNote.
Vejo o Evernote como um repositório das informações do seu dia a dia: páginas favoritas, clipper para leitura posterior, pdfs e documentos digitalizados em geral. O programa pretende ser essa grande cesta digital, sendo que as as notas digitadas são apenas uma espécie delas. Por ser generalista, o Evernote não é minha opção.
O OneNote também não é minha opção por ter a proposta bastante semelhante ao Evernote. Esses aplicativos consideram notas como qualquer tipo de mídia, especialmente desenhos e imagens. Para mim isso não é importante. Veja como o OneNote se apresenta:
Conclusão
Tomo notas quando estou escrevendo algo. Ainda que reconheça o poder do Bear, tenho dado preferência a tomar notas diretamente no editor de texto que vou redigir o meu próprio texto. Minha preferência é por algum editor em markdown, talvez mais o iA Writer do que qualquer outro ao longo deste ano.
Elaboro outlines quando estou lendo algo. Durante muito tempo, utilizei o Dynalist para isso e foi uma ótima escolha. Com certeza está entre meus programas preferidos, especialmente em razão da sua poderosa busca. No entanto, mais recentemente, essa minha demanda tem sendo atendida também por ferramentas de anotação em pdf, como o MarginNote. Mas isso é assunto para outro post.
E você? Como toma notas ao ler e escrever?
Desmemoriado? A solução é o novo plano free do Notion.
O Notion sempre foi uma boa ferramenta de wiki. E agora tem um plano gratuito.
Cheguei a fazer um pequeno review comparando o Airtable, o Notion e o Coda. E sempre considerei que o Notion é uma ferramenta superior para organizar sua base de conhecimento.
Mas o que é uma base de conhecimento?
Existem notas descartáveis, por exemplo: lembretes e lista de tarefas. Aliás, seu objetivo e se livrar delas. De outro lado, existem notas que você quer manter por um longo período de tempo. Esse tipo de organização é conhecida como wiki e sempre foi popular em ambientes corporativos. Um bom caso de uso para um wiki é instruir um novo funcionário sobre as rotinas da empresa.
Há aplicativos estabelecidos nessa área, como o Confluence e o própio GitHub. Mas acho que sempre existiu espaço para um wiki mainstream, que viesse a intruduzir o conceito para além do ambiente corporativo ou hacker. Agora, com o plano free do Notion, finalmente essa opção existe:
O Notion sempre foi uma ótima opção, mas era muito cara. Na verdade, continua uma opção cara para o uso colaborativo (pois o preço é por usuário). A novidade é que, se você for usar o Notion sozinho, não precisa mais pagar.
Quando digo que é possível usar sozinho, isso diz respeito aos poderes de edição. Nada impede o compartilhamento do link do conteúdo (para leitura apenas), o que aliás é uma das formas mais fáceis de publicar uma página simples na internet ou mesmo um pequeno site.
Sim, o Notion é tão poderoso que resultado da publicação é bastante comparável a diversas soluções muito conhecidas no mercado. Ao menos, se sua exigência for muito grande, é possível encarar o Notion como uma ferramenta de prototipação. Assim você poderá - ao menos - colocar sua ideia no ar e colher feedback até que se decida pelo desenvolvimento do site com um investimento maior.
Outro motivo para você ter uma base de conhecimento é se trata de uma ferramenta muito complementar aos chats que usamos hoje: Whatsapp, Slack, etc. Se você está investindo apenas do descartável, talvez esteja se esquecendo de algo.
Então, desmemoriados, vejam lá o novo plano do Notion e isso deve ajudar a não esquecer aquilo que apenas achamos que aprendemos, mas terminamos esquecendo no longo prazo. E poderá também compartilhar com outras pessoas a sua base de conhecimento, prevenindo que sejam eles os desmemoriados.
IA na Folha de São Paulo: matéria ou publi?
Comentário sobre as matérias da Folha de São Paulo sobre aplicações de inteligência artificial no mundo do Direito.
A Folha de São Paulo publicou recentemente uma série de matérias sobre inteligência artificial. Apesar do anúncio incomum, o artigo não foi promovido como um publieditorial. Este é o cabeçalho da matéria de 20/02/20:
E este é seu rodapé:
Ou seja, pode até não ser um publieditorial, mas é uma coluna patrocinada com certeza. Isso demonstra que a Folha está engajada em uma atividade educativa (louvável), o que não nos desonera de considerar os patrocinadores quando encontramos alguma notícia que nos seja especialmente interessante.
Muito bem. Nesse contexto, a Folha publicou também em 10/03/20: "Inteligência artificial atua como juiz, muda estratégia de advogado e promove estagiário".
Como não sei se meu comentário seria autorizado no sistema da Folha, deixou aqui meu roteiro de leitura do artigo. Espero que, com essas advertências, a matéria se torne mais informativa sobre o uso da Inteligência Artificial (IA) no Direito:
- Folha: "Segundo a versão mais recente do "Justiça em Números" (...), 108,3 milhões de causas tiveram início em versão digital de 2008 a 2018". Eu: Isso não é muito relevante para IA, uma vez que o que foi transferido para a plataforma digital foi a tramitação. Os autos continuam a ser PDF normais, os quais não fornecem facilmente o tipo de dados que sistemas inteligentes consomem.
- Folha: "Ilustração de Diana, nome dado ao programa de inteligência artifical do escritório Lee, Brock e Camargo Advogados". Eu: Sério?
Folha: "Macêdo utiliza no dia a dia o sistema, batizado de Elis (no Judiciário de Pernambuco)". Eu: Tudo bem que batizar coisas seja divertido. Mas será que precisamos de mais um robô em 2020?
Folha: "No texto da própria decisão está dizendo que foi Elis quem fez, para permitir transparência no processo, para que se saiba o que está sendo usado." Eu: Você coloca na decisão que foi feito em Word ou máquina de escrever?
Folha: "Segundo Juliana Neiva, secretária de Tecnologia da Informação e Comunicação do tribunal, o desenvolvimento da IA teve custo zero para a corte, pois foi desenvolvido por servidores do próprio órgão." Eu: Os servidores são custo zero?
Folha: "O STJ quer ir mais longe no uso da tecnologia e relata que já está em andamento o projeto Sócrates 2, no qual a ideia é avançar para que a IA em breve forneça de forma organizada aos juízes todos os elementos necessários para o julgamento das causas, como a descrição das teses das partes e as principais decisões já tomadas pelo tribunal em relação ao assunto do processo." Eu: Será que IA é a melhor (ou única) forma de fazer isso?
Folha: "Para lidar com esse problema, o escritório Lee, Brock e Camargo Advogados (LBCA) desenvolveu um aplicativo ligado a um sistema de IA. O mecanismo possibilita levantar, logo após conhecer quem são os depoentes da parte adversária, tudo o que essas testemunhas já disseram em outros processos, afirma Solano de Camargo, sócio fundador do LBCA." Eu: Alguém acha que precisa de IA para isso? Será que esse é realmente um problema central para um escritório de contencioso de massa? O importante não é saber o que o a testemunha falará sobre os fatos daquele determinado processo?
Folha: "O sistema de IA do escritório foi batizado de Diana e já consumiu investimentos de R$ 3 milhões nos últimos anos, diz Camargo. O custo inclui a implantação de um laboratório de tecnologia interno que conta com 41 integrantes." Eu: Com 41 integrantes, você nem precisa de inteligência artificial. Todo o sentido da tecnologia é dar mais produtividade para que você possa ter equipes pequenas.
Folha: "Exemplos de uso: O escritório Lee, Brock e Camargo Advogados (LBCA), de São Paulo, desenvolveu um sistema de IA e um aplicativo conectado a ele. Os advogados da banca podem abrir o aplicativo no decorrer de audiências e usar as análises do software para identificar, por exemplo, contradições de uma testemunha enquanto ela fala ao juiz" Eu: Preciso escrever um post sobre isso.
A Folha de São Paulo é um jornal muito importante e, no meu modo de ver, deveria ser mais seletiva em suas publicações. É natural que um jornal tenha anunciantes. Não é normal, contudo, desinformar dessa maneira. Seria bem legal que a Folha desse sequência na matéria de uma maneira menos capturada. Ou então deixasse mais claro quem é o anunciante, sob pena de se tornar apenas mais uma página na internet.
Como criar aplicativos sem ser programador?
Conheça o movimento no-code e crie você mesmo seus aplicativos web.
Digamos que você tenha um problema para resolver e não encontre um aplicativo pronto no mercado. Ou então tenha encontrado um aplicativo que não acompanhou a evolução da sua demanda. Minha dica é se lembrar que:
Seu problema é resolver o problema. Contratar um desenvolvedor nem sempre é a melhor opção.
Se esse você se identifica com isso e não quer "transformar um problema em dois", pode se beneficiar de um tipo de aplicativo, cuja função é justamente criar aplicativos sem colocar a mão no código do computador.
Quero dizer: use uma solução no-code por enquanto e deixe para contratar o desenvolvedor depois. É claro que, nessa área, ninguém se torna realmente independente sem uma equipe de programadores (sim, é uma equipe). Mas também é verdade que, atualmente, você pode dar os primeiros passos sozinho.
Se você não estava atento a essa possibilidade, bem-vindo ao mundo "no-code". Caso queira entender um pouco mais sobre esse movimento, veja a lista de recomendações do blog No-code ou o post "No-code Revolution. Why now?"
Com isso em mente, preparei um recorte bem básico e no futuro vou trazer opções mais avançadas. Vamos aos concorrentes de hoje.
Airtable
O Airtable é um híbrido de planilha com base de dados. Isso quer dizer que você pode criar relacionamentos entre tabelas, sem se distanciar da visão da tabela.
Nesse sentido, supera bastante o que é possível fazer com o Excel. É realmente muito poderoso. Diversos outros aplicativos tentaram concorrer com o Airtable e simplesmente sucumbiram.
Mais um motivo para usar o Airtable é que se trata de uma empresa consolidada, cuja última rodada de investimentos somou USD 100 milhões. Desde sua primeira versão, datada de 2014, a equipe se dedicou a criar uma boa experiência nas funcionalidades centrais (e gratuitas), ao mesmo tempo em que criou uma série de ferramentas mais sofisticadas (e pagas).
Com esses novos desenvolvimentos (chamados blocks), passou a ser possível, por exemplo, criar um dashboard a partir dos dados do Airtable:
Outro ponto forte do Airtable é sua precificação, pois tem uma opção gratuita muito generosa. Como o preço não é fixado por usuário, você termina pagando apenas se tiver um grande volume de dados hospedados no aplicativo.
Notion
Enquanto o Airtable é uma solução pensada a partir de planilhas, o Notion teve sua origem, em 2016, como uma alternativa a ferramentas de produtividade tradicionais, especialmente gestão de tarefas, notas, etc.
Apesar das diferentes origens, o Notion se aproximou bastante do Airtable nas últimas versões, pois passou a comportar também planilhas. Em termos de preço, trata-se de uma alternativa cara, pois é realmente um produto premium.
Pessoalmente, acho que pagar USD 8/mês por usuário é um preço que só faz sentido se você estiver em um projeto que ganha dinheiro. De outro lado, se você já paga por vários aplicativos e deseja substituir todos eles pelo Notion, pode ser uma opção racional.
Atualização
Veja essa atualização sobre os planos do Notion:
Coda
Se o Airtable pretendeu substituir as planilhas e o Notion pretendeu substituir os aplicativos de produtividade, qual seria a proposta do Coda? No meu modo de ver, o Coda veio inicialmente substituir editores de texto. Mas já faz muito mais do que isso.
Criado em 2017, o Coda teve uma abordagem mais radical que os outros, pois na plataforma cada documento é um aplicativo. Isso torna a compreensão de sua proposta de valor bem mais difícil, conforme o post de Michael Dubakov.
Sendo relativamente recente, o Coda apresentou um plano pago apenas no ano passado. O aplicativo concorre na mesma faixa de preço do Notion, com funcionalidades similares.
A diferença que vejo que o Notion veio substituir a suíte tarefas/notas e depois migrou para uma solução genérica, enquanto o Coda é uma solução que nasceu para substituir a suíte Word/Excel. Vamos considerar então que o Coda é um Google Docs melhorado, pois não tentou replicar tudo o que existia nos aplicativos da Microsoft.
Fibery
Se foi difícil definir o Coda, definir o Fibery é muito mais difícil. Isso de deve a que o Fibery, sendo uma aplicativo mais recente, é uma espécie de resposta a todos os outros. Bem, a comunidade de especialistas ainda está tentando compreender o aplicativo, conforme vemos no vídeo de Francesco D'Alessio.
Assim como a comunidade que deixou esses comentários, ainda preciso usar mais para entender o Fibery, mas já percebi que ele soluciona dois problemas: permite conectar diferentes aplicativos e cria fluxos de trabalho com mais facilidade.
Tais ferramentas são demandas de empresas maiores e não sei qual o estímulo a que os pequenos (ou seja, praticamente todos os iniciantes) optem pelo Fibery. Realmente parece existir aqui um desafio para o negócio.
Seja como for, a visão do Fibery está bem definida e é um aplicativo que vale acompanhar. Mas, se você é um iniciante, realmente não acho que seja recomendável, pois ele atende a demandas que você ainda não tem.
Atualização
Fibery vs. Coda
O blog no Fibery publicou alguns comparativos interessantes, que ajudam a entender como a ferramenta se posiciona diante da concorrência. Eles se colocam como uma solução com ênfase no mercado empresarial, em contraste com o perfil de solução pessoal atribuído ao Coda.
Embora essa possa ser uma premissa relevante para a eles (crescer com o cliente), não acho que isso tenha importância para nós. Afinal, como usuários, nossa escolha é centrada nas funcionalidades do aplicativo disponíveis hoje. Penso que se, no futuro, um aplicativo concorrente evoluir mais, o usuário acompanhará o melhor. Não acho que exista muita fidelidade nesse campo. Isso não é bom nem ruim, sendo simplesmente um fato.
Fibery vs. Notion
Em relação ao Notion, o comparativo feito pelo Fibery é igualmente esclarecedor. De fato, o Notion toma o papel como metáfora, o que é de algum modo limitante. Mas essa escolha também é uma virtude, pois deixa a proposta do aplicativo muito clara. Por isso o Notion é muito reconhecido como uma ótima ferramenta para construir bases de conhecimento (wikis).
Fibery vs. Airtable
No que concerne ao público alvo, o Fibery repete o mesmo posicionamento diante de toda a concorrência, defendendo sua vocação para atender equipes maiores. A diferença está em que, segundo o Fibery, o Airtable seria uma boa base de dados, ao passo que o Coda seria uma boa ferramenta apenas para desenvolvimento de aplicativos mobile. Por seu turno, o Notion seria uma boa base de conhecimento.
O review do Fibery (que é muito justo no geral) assim diagnostica a maior fragilidade do Airtable: por ser um repositório de planilhas que funciona como uma ilha, não é possível cruzar informações entre bases diferentes.
Além disso, como o Airtable trabalha com planilhas (e não com documentos), é impossível fazer uma base de conhecimento na plataforma. Definitivamente, em razão disso, o Airtable não é um bom repositório para textos, instruções, anotações, ou seja, nada que lembre um texto escrito ou uma conversa.
Conclusão parcial
Minha opinião é que o review do Fibery compara funcionalidades (features) de forma muito microscópica. No entanto, para mim, a experiência geral é mais importante que as funcionalidades isoladamente consideradas.
Daí que, por exemplo, até que o Fibery permita a edição do tipo de campo em uma base que já foi criada, não será uma alternativa ao Airtable. Esse aspecto, por si só, demonstra a maturidade do Airtable e como é muito difícil construir algo que seja realmente comparável em termos de flexibilidade e conforto para o usuário.
Conclusão final
Sem dúvida, o Fibery é a opção que tem mais senso de humor e a que mais publica conteúdo informativo sobre a concorrência. Eles estão muito conscientes do mercado e apresentam suas supostas vantagens com muita transparência. Como não consegui ter uma conclusão melhor do que a deles, deixo aqui um resumo das recomendações do próprio Fibery:
- Airtable para substituir o Excel;
- Notion para criar bases de conhecimento (wikis); e
- Coda para escrita colaborativa, concorrendo diretamente com o Notion nessa parte.
Por fim, temos também alguns concorrentes que não estão entre os meus preferidos: Podio, que é o "avô" do Fibery; e Zenkit, que é o clone do Airtable.
Demo do Estatuto do Desarmamento: segunda parte
Demonstração das funcionalidades de busca global e criação de relacionamentos entre dispositivos normativos.
Este post faz parte de uma série de pesquisas para possíveis melhorias no acompanhamento de proposições legislativas. Embora nossa meta seja submeter o projeto ao LABHacker (Laboratório de Inovação Cidadã da Câmara dos Deputados), trata-se atualmente de uma iniciativa independente. As informações foram coletadas do site Dados Abertos e do Portal da Câmara, sendo utilizadas aqui em conformidade com os seus termos de uso.
Dando sequência à demonstração de novas formas de exibição do Estatuto do Desarmamento, preparamos uma segunda parte do ensaio. Aqui nosso objetivo inicial é explorar a busca simultânea em múltiplos documentos, o que chamaremos de busca global.
Nesse propósito utilizaremos um aplicativo chamado Dynalist, mas poderíamos utilizar outros, por exemplo: Workflowy, Checkvist ou Moo.do. Essa opção decorre de que ainda não temos essa funcionalidade incorporada na nossa plataforma, ao passo que já se trata de um comportamento padrão dos "outliners" de uso gratuito.
Nosso diferencial é que somos capazes de gerar, com apenas um clique, os arquivos com as normas devidamente estruturadas. Assim, os arquivos foram gerados no nosso ambiente e estão sendo apenas exibidos em programa de uso comercial. Se nossa comunidade confirmar interesse nessa funcionalidade, ela será desenvolvida para a nossa plataforma, mas hoje ela ainda não está disponível.
Bem, registrada a ressalva, vamos à demonstração.
Enquanto a busca em um acervo geralmente retorna uma lista de documentos, o comportamento demonstrado neste post consiste em trazer os documentos relevantes já abertos e filtrados. Tal filtro destaca a exibição dos fragmentos em que a busca retornar um resultado positivo. Além disso, para dar um pouco de contexto, são exibidos também os fragmentos hiearquicamente superiores, os quais funcionam como uma espécie de "migalhas" para que se saiba o caminho até o fragmento de destino.
Na primeira parte da demonstração, esse comportamento e suas vantagens já chegaram a ser comentados. Mas somente agora demonstramos como é possível fazer isso com diversos documentos simultaneamente. É mais fácil ver em funcionamento do que explicar:
Na barra lateral esquerda está o acervo relevante. No caso, foram selecionados um PL, uma lei e o Código Penal. Ao buscar pela palavra "disparo", o sistema revela que a palavra tanto está presente na lei quanto no PL. A diferença está em que, na lei atual, ocorre a vedação ao disparo pelo caçador para subsistência que der outro uso a sua arma. Já no PL, a palavra ocorre para registrar que o colecionador não pode efetuar disparos.
Por seu turno, é possível notar que, tanto na lei quanto no PL, o disparo de arma de fogo continua previsto como um crime. No nosso modo de ver, essa é a forma ideal de realizar consultas rápidas em múltiplos documentos, pois a própria hierarquia normativa já auxilia bastante na comparação. Afinal, logo de início, você percebe se a comparação está no contexto dos "crimes e das penas" ou do "porte" ou da "aquisição e do registro".
Essa consciência situacional imediata economiza muita carga mental do intérprete.
Mais alguns exemplos ajudam a ilustrar a funcionalidade. Vejamos como o sistema se comporta com a busca por "omissão" e depois por "arma de fogo":
Outros sistemas de informação exigiriam muito mais interações para chegar ao mesmo grau de evidência. Só o fato de não existir paginação (idas e vindas), já auxilia bastante a manipulação do conteúdo. Nesse sentido, a experiência é similar ao que se espera do Google: a solução imediata da questão. De outro lado, não somos avessos a tentar um novo argumento de busca, pois essa é a prática que já temos em outras ferramentas. Queremos que a resposta esteja sempre na primeira página. Pelo menos é assim que eu, pessoalmente, faço minhas buscas.
Assim provamos que é possível buscar e ler diversos documentos na mesma tela, sem mudar de página.
A alternativa até agora, para uma investigação como essa, seria montar uma planilha Excel, que não tem busca. As pessoas estavam acostumadas a copiar e colar textos para programas feitos para fazer operações matemáticas, o que não é um uso racional. Chegamos a ver, mais de uma vez, textos normativos enormes colados em uma planilha, de modo que o leitor tivesse alguma noção sobre o paralelo dos fragmentos em diversas normas.
E isso nos leva ao segundo objetivo, consistente não apenas em nos orientarmos pela estrutura normativa embutida na lei, mas também a poder criar relacionamentos entre fragmentos de diferentes documentos. Em outras palavras, como criar relacionamentos sem ficarmos presos na metáfora da linha de Excel?
Nossa proposta é viabilizar que um documento possa ser consultado dentro do outro, abrindo-se uma janela para criação do vínculo manualmente. Dessa maneira, a navegação se torna muito mais fluida:
Precisamos reconhecer, contudo, que a experiência ainda seja um tanto truncada, pois realmente é algo muito complexo: navegar dentro de um texto estruturado, criando relacionamentos com pontos de outro texto estruturado. Não é uma tarefa fácil, especialmente no caso de estarmos criando referências "inline". Talvez o servidor responsável por criar esses vínculos deva ser um especialista.
Já para o leitor, contudo, a experiência parece agradável, pois o que ele nota é apenas um link dentro do texto, que o remete para um determinado ponto de outro texto, com o qual guarda relação. Por exemplo, o Art. 46 do PL é relacionado aos Arts. 12 e 14 da lei antiga:
Em outras palavras, criar um texto estruturado dessa forma sempre foi difícil. Agora passou a ser possível, apesar da dificuldade. A vantagem é que, uma vez criado, o leitor terá muita facilidade em ver relações entre pontos de documentos normativos que antes ficavam ocultos.
Isso pode ser útil, por exemplo, na organização e na votação de emendas, pois sem dúvida trata-se de um momento em que dois textos precisam ser confrontados com clareza. De outro lado, pode ser útil para quem pesquisa e compara os textos normativos ou, quem sabe, para quem minuta uma proposta de texto.
De todo modo, para fim de prova de conceito, parece estar demonstrado que é possível consultar diversos textos (ou diversas versões de um mesmo texto) com uma busca bastante intuitiva e rápida. Atualmente, até onde vai nosso conhecimento, não existe uma ferramenta que facilite a comparação de textos dessa natureza.
Seja visto como um advogado